Poderes político e econômico tentam acabar com a greve dos bancários
A greve dos bancários continua nesta sexta-feira sem solução. Quase um mês depois do início do movimento, os banqueiros continuam intransigentes e se recusam a sentar-se com os bancários para encontrar uma saída negociada para o impasse.
A Executiva Nacional dos Bancários já tentou reabrir as negociações com Fenaban por duas vezes e o presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ministro Vantuil Abdala, por mais duas vezes. As quatro tentativas fracassaram e o argumento utilizado pelos banqueiros para justificar a negativa é fraco, ridículo e irreal: falta de condições financeiras para um reajuste maior. “Poderiam usar qualquer argumento para manter a proposta, menos falta de condições. Somente nos primeiros seis meses deste ano os dez maiores bancos lucraram R$ 11,6 bilhões. Eles precisam ser mais criativos para inventar desculpas”, comentou Vagner Freitas, presidente da CNB/CUT e coordenador da Executiva Nacional.
A intransigência da Fenaban, no entanto, está encontrando o respaldo da Justiça e do governo. Os banqueiros têm recorrido à Justiça Cível para conseguir liminares que atrapalham a greve dos bancários. Pior: com base nesses instrumentos, chamam a polícia que – com sua violência habitual – reprime os grevistas a socos e pontapés, além de prender muitos sindicalistas. “Aqui em São Paulo nossa greve só não foi inviabilizada graças à disposição dos bancários de continuar a luta. A polícia tem usado toda a sua violência e a Justiça tem sido uma ótima aliada dos banqueiros”, afirmou Vagner.
No governo também não falta disposição para esvaziar a greve dos bancários. Responsável pelos bancos federais, o governo se nega a avançar na pauta de reivindicações específicas deste funcionalismo, que já foi muito penalizado durante os oito anos da era FHC. “Além de não negociar, as direções dos bancos públicos estão exercendo violenta pressão sobre seus funcionários, em telefonemas ameaçadores para suas casas, com assédio moral diário para forçá-los a voltar ao trabalho”, lamentou o dirigente.
O próprio Banco do Brasil já tentou acabar com duas vezes com a greve. A primeira vez foi no início do movimento, quando a superintendência de Brasília chamou os gerentes e, com ameaças, obrigou parte dos empregados a votarem contra a continuidade da greve. A coerção quase surtiu efeito e rachou a assembléia, que ainda assim aprovou a manutenção do movimento.
A segunda tentativa ocorreu ontem, na assembléia do Sindicato de São Paulo. Os bancários tomaram um susto quando chegaram à Quadra e encontraram os chefes na assembléia. “Todo bancário, independente do cargo, é bem vindo na assembléia. O que não pode é o Banco do Brasil forçar os funcionários em cargos de chefia a comparecer no Sindicato para votar contra a continuidade da greve”, disse Vagner.
Segundo ele, os bancários estão decepcionados e indignados com o comportamento do governo federal, que está traindo seu discurso e seus compromissos ao empregar essas práticas anti-sindicais contra um movimento legítimo dos trabalhadores do ramo financeiro.
Jogo contra – Não bastasse a união banqueiros-governo-justiça-polícia para tentar acabar com a greve, os bancários ainda encontram adversários para sua causa dentro do próprio movimento sindical. Num momento em que a categoria deve se unir para sair vitoriosa da greve, surgem pessoas que lutam por uma vitória individual e que preferem se aventurarem por caminhos perigosos somente para marcar posição.
“Tem gente defendendo o ajuizamento de dissídio no TST, um absurdo que pode jogar no lixo anos e anos de muita luta. O dissídio é um tiro no escuro e corremos um sério risco. Temos a experiência acumulada de julgamentos que nunca recompuseram a inflação. Em muitos casos, o TST decidiu até mesmo por um reajuste inferior à proposta patronal, além do que, o Tribunal não julga outras cláusulas que não sejam as econômicas. Uma das principais conquistas dos bancários, fruto da luta de anos, foi o afastamento da Justiça do Trabalho das nossas negociações e a constituição da Convenção Coletiva entre as partes”, disse Vagner.
Ele destacou que os julgamentos de greve, invariavelmente, a consideram abusiva, dando às direções dos bancos um instrumento jurídico para todo tipo de represália aos trabalhadores em greve. “Os bancários do Banco do Brasil ainda sentem as conseqüências do julgamento do dissídio de 1997, que permitiu à direção do banco reduzir o interstício entre as referências, de 12% para 3%, e do dissídio de 1999, que permitiu ao banco retirar o anuênio”, finalizou.
fonte: Fábio Jammal Makhoul – CNB/CUT