Peso das tarifas na receita quase dobra em 3 anos
De 2002 para 2004, participação da cobrança dos serviços bancários no resultado foi de 12,6% para 20,2%
O peso da cobrança pelos serviços bancários aumentou significativamente na composição da receita do setor nos últimos três anos, quando foram registrados recordes no lucro pelos bancos. Em 2002, essa rubrica, cujo principal item são as tarifas, respondeu por 12,6% do resultado; em 2003, subiu para 17,1% e, no ano passado, para 20,2%.
Enquanto isso, a arrecadação com a administração de títulos e valores descreveu curva inversa: 37,6% em 2002, 30,6% em 2003 e 24,4% em 2004. As operações de crédito, principal fonte de recursos das instituições se mantiveram estáveis em 40,3%, 40,8% e 42,5%.
Outra mudança foi o aumento da rentabilidade do setor, que em 2000 era de 10,61% e no ano passado foi de 22,58%, superior à média nos Estados Unidos, em torno de 15%.
Segundo Fernando Exel, sócio da Economática, consultoria que preparou, a pedido do Jornal O Estado de S.Paulo, o estudo sobre a composição da receita bancária, esse fenômeno decorrente de um período de crescimento econômico e não marca uma tendência. “Isso é relativamente comum na fase de ascendência da economia. Já no mercado americano, o sistema é muito maduro”, avaliou.
O levantamento da Economática foi feito por amostragem, reunindo cinco grande bancos que já divulgaram o balanço de 2004: Itaú, Bradescom Unibanco, Santander Banespa e Banco do Brasil. O grupo detém mais de 90% dos ativos das instituições bancárias brasileiras de capital aberto.
O economista-chefe da Febraban, Roberto Luis Troster, atribui a elevação da rentabilidade à multiplicação das transações bancárias, devido ao crescimento dos correntistas e ao aumento do crédito que a melhora da economia permitiu e à queda da inadimplência.
“As transações estão crescendo 20% ao ano. Foram R$ 23,5 bilhões em 2003 e a estimativa para 2004 é de R$ 28 bilhões. O crédito em consignação de pessoas físicas aumentou 28,9% no ano passado”, exemplifica.
Ele insiste na negativa da tese de que o aumento excessivo das tarifas, liberadas desde o fim dos anos 90, esteja puxando o resultado dos bancos. “Se for considerado um período mínimo de dois anos, as tarifas cresceram menos que a inflação”, sustenta.
Não é o que conclui o economista José Santiago Fajardo Barchan, professor da Ibmec School, especialista em sistema bancário. “Os reajustes das tarifas estão sendo feitos acima da inflação medida pelo IPCA, enquanto os custos são reajustados pela inflação. Desse modo, tirando as despesas com pessoal, o que sobra da receita com serviços cobre em 25% os gastos administrativos”, afirma. Ele lembra que a extrema concentração do setor reduz a competitividade e contribui para a prática de tarifas extorsivas.
De acordo com o levantamento da Economática, em 2004 os cinco grandes bancos levantaram um lucro líquido de R$ 12,893 bilhões. Mas a grande surpresa, segundo Fernando Exel, foi o spread (remuneração pela intermediação financeira) acumulado: R$ 40,915 bilhões. Foi inferior ao de 2003, que havia reunido R$ 41,464 bilhões (valores reais reajustados pelo IPCA até 31/12/04), mas o spread costuma acompanhar o movimento dos juros básicos (Selic). Em 2003, a Selic foi de 235; em 2004, caiu para 16%.
“Com um juro menor, o que se esperava era uma cobrança menor pela intermediação. Houve somente um pequeno decréscimo e ainda sobrou (dinheiro) para bater o recorde”, diz Exel.
Para Fajardo, uma das questões a serem observadas é que a economia brasileira ainda está num momento macro. “O governo está tomando as medidas certas. O Banco Central, como regulador de mercado, tem uma tarefa muito difícil, de manter a política monetária estabilizada. Mas, há um ponto ainda deficiente, que aa fiscalização de tarifas que são abusivas, ou seja, a questão micro.”
No ano passado, a receita total com intermediação financeira dos cinco maiores bancos – Itaú, Banespa, Unibanco, Banco do Brasil e Bradesco – foi de R$ 92,491 bilhões, enquanto co serviços bancários foram arrecadados R$ 23,348 bilhões. As despesas administrativas e com pessoal consumiram R$ 37,829 bilhões; as despesas com intermediação financeira, R$ 51,576 bilhões.
fonte: O Estado de S.Paulo