Paulinho da Viola recebe título de cidadão paulistano
Na noite de quarta-feira, 19, centenas de pessoas (de todas as raças, cores e credos) lotaram o salão nobre da Câmara Municipal de São Paulo, para participar da homenagem ao cantor e compositor Paulinho da Viola, que recebeu o título de cidadão paulistano. A calorosa cerimônia foi marcada pela apresentação de vários grupos musicais e por muita emoção.
Ao ter seu nome anunciado e adentrar ao local, Paulinho foi aplaudido de pé por todos os presentes. Na seqüência, representantes do movimento negro, políticos e autoridades municipais e estaduais falaram do talento e da importância do artista, que nasceu no Rio de Janeiro, para a música popular brasileira (MPB) e a luta do povo afro-brasileiro. Diversas personalidades do carnaval paulistano também foram reverenciar o filho ilustre da Portela, entre as quais “seu” Nenê da Vila Matilde, Osvaldinho da Cuíca, e Ediléia dos Santos, da Liga das Escolas de Samba de São Paulo.
O vereador Beto Custódio (PT), autor do Decreto que concedeu a honraria, contou que a idéia partiu do Movimento Negro Unificado (MNU). “Quando falaram no Paulinho da Viola, não tive dúvida, pois qualquer município gostaria de tê-lo como cidadão.” Para o parlamentar, o sambista “valoriza a música e a cultura brasileiras.”
Milton Barbosa, coordenador do MNU, lembrou de como começou, há 25 anos, a luta da entidade contra o racismo e do apoio do Paulinho da Viola à causa. Barbosa estava visivelmente emocionado, ao se referir ao homenageado. “Hoje é um dos dias mais felizes da minha vida…”, começou a dizer, quando as lágrimas e o choro o impediram de prosseguir. Fortes aplausos encerraram a cena em que o militante chorou.
As falações foram intercaladas por músicas, incluindo sambas de autoria do homenageado, que ficou com os olhos vermelhos ao ver o grupo Tias Baianas Paulistas cantar e dançar a canção Foi um rio que passou em minha vida. “Fiquei emocionado com a interpretação, pois há muito tempo eu não a ouvia dessa forma”, afirmou.
Outro momento especial foi quando um coral, formado por dezenas de vozes da platéia, entoou uma canção africana. Também contribuíram com a animação da festa, os grupos Embaixada do Samba, Preservação das Raízes e Projeto Cultural Samba Autêntico. Ao final, o Rei Momo e as princesas do carnaval paulistano entregaram a Paulinho da Viola uma bandeira da cidade de São Paulo.
Agradecimento com voz embargada – Após receber o título, a faixa e o diploma de cidadão paulistano, o artista falou de seu carinho para com a cidade e seus habitantes. “Tenho mais amigos em São Paulo do que no Rio de Janeiro.” Disse que visita regularmente a capital paulista há 40 anos e lembrou de algumas passagens. “Eu e vários outros artistas fizemos uma atividade no campus da USP, na época da Ditadura, quando as pessoas tinham medo”, relatou.
Ele também explicou um dos motivos pelo qual gosta da metrópole paulistana. “Minha música de maior sucesso (Foi um rio que passou em minha vida) foi lançada aqui.” Ao se referir à luta dos negros por igualdade e justiça, foi enfático: “A discriminação e o preconceito separam as pessoas”. E convocou a todos: “Precisamos romper com isso e criar uma sociedade diferente”.
Paulinho da Viola terminou sua fala, bastante emocionado. “Já recebi homenagens que me comoveram, mas nunca uma como essa…” Com a voz embargada pelo pranto, não conseguiu terminar a frase. Posteriormente, já refeito, concluiu seu recado aos paulistanos: “Agradeço de coração a homenagem tão carinhosa de vocês, isso é algo que eu não vou esquecer”.
Afubesp apoiou a homenagem – Diversos diretores da Afubesp compareceram ao evento, que teve o apoio da entidade. O diretor Cultural, Rafael Pinto, que fez parte da mesa, relacionou o momento ao Dia da Consciência Negra (20 de novembro) e avaliou o seu significado. “A homenagem ao Paulinho representa a continuidade da luta por uma sociedade em que todos possam ser felizes.”
Além de Rafael, também estiveram na recepção os diretores da Afubesp, José Aparecido da Silva Chocolate, Marly dos Santos e Maria Selma, o diretor do Seeb/SP, Marcos Benedito, e diversos colegas do Santander Banespa.
Outro banespiano que levou o seu abraço ao artista foi o secretário-geral da CUT Estadual, João de Oliveira. “Viemos nos somar a esta justa homenagem não apenas ao sambista, mas ao grande guerreiro que defende a cultura negra.”
fonte: Afubesp