ORGANIZAÇÃO LATINO-AMERICANA CRITICA NEOLIBERALISMO E APOIA LUTA CONTRA PRIVATIZAÇÃO
A crítica ao modelo econômico adotado no Brasil e na grande maioria dos países latino-americanos dominou o 8.º Encontro Anual do Grupo Solidário São Domingos, realizado na sexta-feira, 20, no Parlatino, em São Paulo.
O encontro deste ano tinha como tema a globalização e usou o slogan “Um mundo onde cabe todos os mundos”. Dom Pedro Casaldáliga contrapôs à globalização dos mercados, que interessa somente ao grande capital, a “mundialização da solidariedade e da justiça social”. E fez um chamamento à consciência de todos os latino-americanos: “Ou somos solidários ou não temos futuro”.
Durante o evento, que reuniu mais de mil pessoas, foi lançada a Agenda Latino-Americana 2001, um calendário com referências aos mártires e à luta dos oprimidos no continente. Diversos destes “heróis do povo” foram lembrados na cerimônia, entre os quais o arcebispo de El Salvador, Dom Oscar Romero, que foi assassinado, em plena missa, por defender o direito de seu povo à liberdade. As lutas pela independência de Timor Leste e contra a segregação racial na África do Sul também foram citadas.
Entidades que defendem os direitos humanos e a preservação da natureza, como Anistia Internacional, Greenpeace, Justiça Global e ACAT, foram homenageadas pelo Grupo Solidário São Domingos.
Luta contra privatização do Banespa ganha apoio
O frei dominicano João Xerry leu, no encontro, uma moção de apoio ao movimento em defesa do banco. O documento, intitulado “Privatização do Banespa beneficia os banqueiros e amplia a exclusão social”, foi aprovado por aclamação.
No final do encontro, Dom Pedro Casaldáliga conversou com o ex-diretor representante, Osvaldo Laranjeira, e com os diretores da Afubesp Ademir Wiederkehr e Jucelino Brandão. Os representantes dos banespianos entregaram-lhe cópia da carta aberta à população que denuncia as ilegalidades do processo de privatização e os graves prejuízos à sociedade, caso não seja impedido.
Dom Pedro Casaldáliga declarou, de imediato, sua solidariedade ao movimento e fez um apelo à continuidade da resistência: “Vocês não podem perder a esperança, pois essa é uma causa justa.”
Veja a íntegra da moção de apoio aprovada, por aclamação, no 8.º Encontro do Grupo Solidário São Domingos:
Moção
PRIVATIZAÇÃO DO BANESPA BENEFICIA OS BANQUEIROS E AMPLIA A EXCLUSÃO SOCIAL
O Grupo Solidário São Domingos, neste lançamento da Agenda Latino Americana 2001, declara seu total apoio à luta desenvolvida por amplo setores da sociedade paulista e brasileira contra a privatização do Banco do Estado de São Paulo.
A entrega do Banespa aos grandes banqueiros, assim como ocorreu com outras privatizações feitas por recomendação do Fundo Monetário Internacional, só beneficiaram os grandes grupos econômicos, especialmente as multinacionais.
O falso argumento de que a venda do patrimônio público resultaria em mais investimentos nas áreas da saúde, educação, segurança e emprego, já não consegue enganar a opinião pública. Além disso, as empresas privatizadas aumentaram os preços dos serviços e pioraram o atendimento à população.
Todos os relatórios internacionais revelam que o atual modelo econômico, seguido pelo governo brasileiro e pela maioria dos países da América Latina, ampliou o abismo social que separam as nações ricas e pobres.
Uma das principais conseqüências das privatizações é a explosão do desemprego, que chega a quase 20% nas grandes cidades, como São Paulo. O que explica, ao menos parcialmente, o aumento brutal da violência que vitima principalmente os jovens da periferia.
Ainda há tempo para evitar a venda do Banespa, que, se consumada, trará grandes prejuízos à sociedade. Muitas agências serão fechadas, deixando dezenas de cidades sem nenhum atendimento bancário. Os pequenos e médios produtores rurais não mais poderão contar com o principal agente financiador da agricultura paulista, o que, certamente, reduzirá a produção de alimentos. Milhares de trabalhadores, de diversos setores, serão demitidos, aumentando ainda mais o desemprego. E o Estado perderá um banco saudável, que, só nos primeiros oito meses deste ano, lucrou R$ 577 milhões.
Por tudo isso, apoiamos a proposta de realização de plebiscito, que se encontra na Assembléia Legislativa de São Paulo, para que o povo paulista, o verdadeiro dono do Banespa, decida se deseja ou não a privatização do banco.
Defendemos também a Proposta de Emenda Constitucional n.º 4, que prevê o retorno do controle acionário do Banespa para o Estado de São Paulo como banco público, com a participação da sociedade em sua gestão e controle. A referida PEC foi aprovada por mais de 350 câmaras municipais paulistas.
O Brasil, bem como as demais nações latino-americanas, não precisam de mais bancos privados. Precisam de crédito para geração de emprego e renda, que visem resgatar a dignidade de milhões de pessoas excluídas pela globalização.
São Paulo, 20 de outubro de 2000
fonte: AFUBESP