Nove anos da privatização do ex-Meridional
Na última segunda-feira, dia 4, a privatização do ex-Banco Meridional do Brasil completou nove anos. O Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários) recorda um pouco da história da brava luta dos trabalhadores para impedir a venda do banco.
A privatização deixou um saldo amargo de milhares de desempregados, corte de conquistas dos bancários, fechamento de dezenas de agências e postos, e prejuízos para a economia gaúcha e o atendimento de clientes e da população.
A entrega do banco ocorreu durante os governos Antonio Brito e Fernando Henrique Cardoso, após anos e anos de resistência e luta dos bancários e da sociedade gaúcha. A categoria realizou inúmeras manifestações públicas, atividades nas câmaras municipais, nas assembléias legislativas e no Congresso Nacional, parcerias com prefeituras em defesa da instituição e até uma greve de fome de quatro mulheres.
O Meridional foi comprado pelo grupo Bozano, Simonsen em 4 de dezembro de 1997. O novo dono logo baixou uma política de “terra arrasada”. Milhares de funcionários foram obrigados a aderir a um Programa de Demissão Voluntária (PDV). Outros tantos foram desligados mais tarde, num processo que nunca acaba.
Os bancários tinham conquistado um aditivo à convenção coletiva firmada com a Fenaban, que previa o pagamento de valores superiores para vale-refeição, auxílio creche/babá e pisos salariais, entre outras vantagens. O Bozano, Simonsen se negou a negociar a manutenção dessas conquistas e, ao longo dos anos, os valores ficaram congelados até a equiparação com o que está previsto no acordo da categoria.
Em 2000, o Meridional foi vendido, sob as mesmas condições do edital de privatização, para o grupo espanhol Santander, que continuou o desmonte. Poucas cidades médias ainda continuam com unidades do banco. O enxugamento de funcionários e agências foi brutal.
A marca passou, então, para Santander Meridional. O nome Meridional, no entanto, foi logo depois abandonado, ficando apenas Santander. A razão social mudou para Banco Santander Meridional, que permaneceu até o último dia 31 de agosto, quando uma assembléia de acionistas decidiu pela criação do Banco Santander Banespa, unificando todas as denominações do grupo do Brasil.
Atualmente, cerca de 400 funcionários permanecem com a carteira assinada pelo ex-Meridional. Com os trabalhadores do ex-Santander Brasil e ex-Banespa, são hoje aproximadamente 21 mil bancários do Santander Banespa, que continuam a história de luta em defesa dos empregos e direitos.
Este ano, essa unidade obteve o primeiro aditivo à convenção coletiva num banco privado no país, garantindo uma série de conquistas que eram restritas aos banespianos para todos os empregados do Santander Banespa, como o direito ao intervalo de 15 minutos dentro da jornada de seis horas.
Um pouco da história do banco
A história do Meridional começou com antigos bancos gaúchos. Em 1972 foi efetuada a fusão dos bancos Província do Rio Grande do Sul, Nacional do Comércio (Banmércio) e Industrial e Comercial do Sul, sendo criado o Banco Sulbrasileiro.
Sob o slogan “É coisa nossa”, o banco tinha uma rede de agências espalhada pelos três estados do sul do país, além de diversas unidades em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerias, bem como em várias capitais do Nordeste. Em fevereiro de 1985, no final do governo Figueiredo, a instituição sofreu a intervenção do Banco Central.
O Meridional foi criado em agosto de 1985, no governo Sarney, fruto da luta dos bancários e da sociedade gaúcha contra a tentativa de liquidação do Sulbrasileiro, tornando-se então um banco estatal federal.
Aposentados na luta
Os bancos fusionados em 1972 tinham caixas de complementação de aposentadoria para os funcionários, mais conhecidas como “caixinhas”, que eram:
– DAB (Departamento de Aposentadoria e Benefícios do Banco da Província do Rio Grande do Sul);
– CACIBAN (Caixa de Auxilio dos Funcionários do Banco Nacional do Comércio S/A);
– DCA (Departamento de Complementação de Aposentadoria do Sulbanco).
Por ocasião da privatização, foi aportada a importância de R$ 147 milhões como reserva específica para honrar esse passivo. As caixas não têm conhecimento da evolução dos recursos, exceto através dos balanços publicados pelo banco.
Apesar da responsabilidade solidária do banco perante essas “caixinhas”, de acordo com o edital de privatização, o Santander limita-se a efetuar o pagamento das complementações, com o repasse do índice de reajuste da categoria, porém sem conceder outras conquistas dos bancários, como a cesta-alimentação e os abonos salariais, o que viola a sua obrigação para com os aposentados, no que diz respeito aos direitos dos mesmos, segundo constam nos Estatutos/Regulamentos de cada Caixa.
Mais de 1.000 aposentados e pensionistas lutam contra o Santander em defesa dos seus direitos, através de ações judiciais, cobrando responsabilidade social, valorização do Estatuto do Idoso e dignidade para quem trabalhou e construiu a história do banco.
fonte: SindBancários