“Miguelão”: um lobista no Ministério do Desenvolvimento
Miguel Jorge ou, melhor, “Miguelão”, como Lula o chama, se prepara para assumir a Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio no lugar do empresário Luiz Fernando Furlan. Decisão tomada pelo presidente da República, resta agora avaliar as razões que levaram o vice-presidente executivo de Recursos Humanos, Assuntos Corporativos e Jurídicos do Santander Banespa e ser convidado para o cargo.
Desde logo, é importante lembrar que o nome de Miguel Jorge não figurava entre as alternativas iniciais da cúpula palaciana. Aliás, Lula não queria nem mexer na pasta. Bem avaliado pela mídia e por seus pares empresários, o atual ministro está saindo por vontade própria.
Frustradas as tentativas de convencer Furlan a ficar, Lula manteve sua opção política de ter um grande empresário à frente da pasta. A alternativa de um economista da linha desenvolvimentista sequer foi cogitada. Jorge Gerdau, dono do grupo siderúrgico Gerdau, e Maurício Botelho, presidente da Embraer, foram alguns dos sondados, mas nada feito.
Sem um nome de peso do andar de cima disposto a assumir a tarefa, o próximo passo foi procurar um executivo que tivesse o apoio do empresariado e muito bom trânsito nos gabinetes e escritórios de Brasília. Aí a coisa encaminhou-se naturalmente para Miguel Jorge, pois, além de se encaixar no novo perfil sugerido para o cargo, ainda conhecia o presidente Lula de longa data, desde as greves do ABC.
O futuro ministro foi diretor de redação do jornal O Estado de S.Paulo nos anos 1970 e, posteriormente, diretor de Assuntos Institucionais da Volkswagen e Auto Latina (associação da Volks com a Ford no Brasil).
O convite de Lula foi feito em uma quarta-feira (da semana passada), dia em que Miguel Jorge costuma se dedicar a contatos em Brasília, hábito que cultiva desde a época em que trabalhava na indústria automobilística.
As visitas ao Planalto, ministérios, ao Congresso e áreas da Justiça lhe valeram a fama de eficiente lobista, tanto por bem representar os interesses das empresas em que atuou como por cultivar boas relações com o poder (não importa se tucano ou petista), o que se confirma na escolha para ser ministro.
Sentimentos diferentes no Santander Banespa
A cúpula do banco espanhol comemora a súbita ida de Miguel Jorge para o novo posto, em Brasília, afinal de contas é sempre bom ter um de seus executivos na Esplanada dos Ministérios. Certamente, alguns funcionários também simpatizam com a idéia de ver um profissional da mesma empresa galgar um posto tão importante, sentimento bastante compreensível e natural.
Entretanto, grande parte dos empregados é indiferente ao assunto, pois sabe que nada vai mudar independentemente do novo ministro trabalhar para o Santander Banespa. Os bancários vão ter continuar lutando contra a cobrança por metas abusivas, o assédio moral e o desrespeito à jornada e a outros direitos.
Por fim, existe um numeroso grupo de trabalhadores da empresa, especialmente de aposentados pré-75, que criticam a escolha do presidente Lula. Eles denunciam que o executivo em questão está a serviço de uma das empresas líderes em número de processos trabalhistas.
Lembram ainda que Miguel Jorge já integrava a cúpula do Santander Banespa quando o banco congelou as complementações de aposentadorias e pensões de 12.000 banespianos pré-75, mesmo tendo recebido títulos federais destinados a honrar o compromisso com os devidos reajustes. O congelamento durou seis anos e trouxe muito prejuízo e sofrimento para o segmento.
Para as pessoas que passaram pela situação, a escolha de “Miguelão” não é nada agradável. Algumas chegam a desconfiar das razões pelas quais o vice-presidente executivo do banco espanhol aceitou o convite de Lula. “Por que alguém que ganha os `tubos´ no Santander Banespa iria ser ministro para receber apenas R$ 8.000,00 mensais? Será que é apenas espírito público e patriotismo?”, questionam de forma irônica.
fonte: Airton Goes – Afubesp