Maria Rosani: Mulheres, sempre na linha de frente! #8M
Lembro-me nitidamente com certo estranhamento que, quando criança, via que minha mãe precisava utilizar o documento de meu pai para fazer qualquer trâmite. Naquela época, não havia nem ao menos CPF concedido às mulheres. Como se não fossem cidadãs, como se não fizessem de fato parte da sociedade e que sua única função fosse cuidar de casa e da família.
Chegamos em 2024 e há sim certa mudança dos tempos para as mulheres, mas ainda muito a avançar. O voto feminino foi conquistado há apenas 92 anos! E em um país ainda estruturalmente patriarcal, vamos conseguindo, pouco a pouco, subir alguns degraus para uma sonhada igualdade graças à força que somente nós sabemos de onde tiramos.
De lá pra cá, foi preciso muito suor e luta destemida. Muitas caíram nas batalhas, mas deram coragem e inspiração para que muitas hoje pudessem usar o direito de gritar por respeito nas ruas.
E isso inclui o direito fundamental de viver, visto os alarmantes casos de violência e feminicídio não só no Brasil, mas no mundo todo. Quantas mais terão de sofrer para que nossas filhas possam viver em paz?
A igualdade de oportunidades, a despeito da cor, do sexo e condição social é pauta histórica do movimento sindical. A gestão em equidade, o direito das mulheres de ocuparem todos os espaços também. Vejo com muito entusiasmo que mulheres têm conquistado cadeiras no Congresso e em locais de decisão, onde tanto precisamos de representatividade.
Felizmente, há iniciativas positivas vindo para reparar erros como a vergonhosa disparidade salarial entre homens e mulheres. Neste ano, o governo federal determinou que as empresas adotem a Lei da Igualdade Salarial, que já era prevista na Constituição Federal e Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Com isso, tais empresas devem enviar as informações e serão passíveis de fiscalização. Um baita avanço que acompanhamos de perto, principalmente na categoria bancária.
As mulheres, ao longo dos tempos, sempre representaram o papel de cuidadoras dos seus filhos, de seus parceiros, de seus familiares, de seus vizinhos. A tripla jornada – os cuidados com a casa, o desempenho no trabalho e educação dos filhos é exaustiva. Portanto, se faz cada vez mais necessária a conscientização do entorno e da paternidade ativa. Precisamos também de qualidade de vida, espaço para sonhar e ser o que somos.
Com muito orgulho, sou a primeira presidenta mulher da história dessa entidade aguerrida, que esteve em todas as linhas de frente graças ao trabalho incansável de meus predecessores. Nestes dez meses à frente da presidência, voltamos a nos encontrar pessoalmente em atos e audiências e tive a dimensão da força das mulheres aposentadas que, como eu, dedicaram grande parte de suas vidas ao banco e hoje defendem o direito às suas complementações da aposentadoria ante a crueldade do Santander.
Não nos esqueceremos nunca dos atores da nossa memorável luta contra a privatização do Banespa. Estivemos juntas e juntos durante tantos anos e não soltamos as mãos nem mesmo depois de o martelo ser batido.
Estamos juntas – e juntos! – pois esse debate não pode se limitar a nós. Uma sociedade melhor só é alcançada com o empenho e respeito de todos.
Maria Rosani Gregorutti Akiyama Hashizumi – presidenta da Afubesp