Lucro dos bancos aumenta abismo entre capital e trabalho
O imenso abismo econômico e social que divide as classes na sociedade moderna aumentou mais um pouco este ano. E os bancários – que é a força de trabalho do capital que mais cresce nas últimas décadas – são os primeiros a sofrer com esta dicotomia. Enquanto os funcionários do sistema financeiro privado fecharam um acordo esta semana que prevê entre 8,5% e 12,77% de reajuste, três dos maiores bancos nacionais que já anunciaram seus lucros até setembro ganharam, em média, quase três vezes mais que o aumento do trabalhador.
“Nesta Campanha Salarial tivemos que brigar muito para conquistar um aumento real de salários. Enquanto isto, os banqueiros ampliaram seus lucros quase três vezes mais que o reajuste do trabalhador, ou seja, a concentração de renda só aumentou em 2004. Não é esta a sociedade que queremos, em que os ricos ampliam a sua fortuna e os pobres ficam mais miseráveis a cada dia”, comentou Vagner Freitas, presidente da Confederação Nacional dos Bancários (CNB/CUT).
Os três dos maiores bancos privados do Brasil que já divulgaram o lucro dos três primeiros trimestres do ano ampliaram seus ganhos 22,6% em média na comparação com o mesmo período do ano passado.
O maior crescimento foi registrado pelo Bradesco, com ganho de 25,8% superior ao de 2003. O lucro líquido dos nove primeiros meses do ano foi de R$ 2,002 bilhões, sendo que no terceiro trimestre – enquanto os bancários estavam em plena Campanha Salarial – o lucro do banco alcançou R$ 752,3 milhões, o que mostra um crescimento de 17,3% em relação ao segundo trimestre de 2004 e avanço de 33% na comparação com igual período do ano passado. O resultado do terceiro trimestre superou até mesmo as estimativas feitas por analistas da consultoria Thomson Financial, de lucro próximo a R$ 678 milhões.
Já o Itaú ampliou seus lucros em 19,5% no terceiro trimestre do ano, proporcionado principalmente pelas altas taxas dos empréstimos e cobrança de tarifas, segundo o balanço divulgado pelo próprio banco. Se a taxa de crescimento foi menor que o Bradesco, a cifra ultrapassou o maior banco privado do país: R$ 2,745 bilhões. Com este valor, o Itaú despontou na dianteira da lista das maiores empresas brasileiras financeiras e não-financeiras que já divulgaram balanço do terceiro trimestre.
O Unibanco, o terceiro banco a divulgar o balanço, obteve lucro líquido de R$ 908 milhões no acumulado de janeiro a setembro deste ano, 19,3% superior ao resultado de igual período do ano passado. O lucro do terceiro trimestre foi de R$ 327 milhões, volume 7,2% maior ao do segundo trimestre deste ano e 21,1% superior ao resultado do mesmo período de 2003. O patrimônio líquido de grupo totalizava R$ 7,932 bilhões ao final de setembro, apresentando um crescimento de 12,9% quando comparado ao saldo do mesmo período de 2003.
Para Vagner Freitas, o Brasil precisa discutir urgentemente o papel do sistema financeiro nacional. “Os banqueiros lucram em seis vezes mais do que as maiores empresas do setor produtivo. E não contribuem em nada para o crescimento do país, pois não oferecem crédito suficiente, as taxas de juro são extorsivas e as tarifas crescem a cada dia, o que só contribui para a concentração de renda”, comentou.
Se a sociedade sofre com os banqueiros, os bancários sentem ainda mais o calvário de trabalhar para o setor mais lucrativo dos últimos tempos. Como a principal lógica do capitalismo é concentrar renda, os banqueiros têm esfolado seus funcionários para ampliar os lucros. Enquanto o emprego está em franca expansão no setor produtivo, o sistema financeiro tem diminuído a cada dia o número de funcionários. Só na última década, a categoria bancária foi reduzida a menos da metade, a despeito da folha de pagamento ser coberta somente com as tarifas. “Com isto, oferecem um péssimo atendimento à sociedade e sobrecarregam os empregados de trabalho”, afirmou Vagner.
Outros bancos – O grupo Santander Banespa abriu a temporada de divulgação dos resultados de bancos, com o anúncio do lucro líquido de R$ 1,250 bilhão de janeiro a setembro. No trimestre, a instituição registrou lucro de 385,29 milhões, número 59,3% superior ao ganho para o mesmo período em 2003.
O valor acumulado nos nove primeiros meses do ano supera o lucro fechado de 2001: R$ 1,089 bilhão em doze meses. O valor retrata o primeiro ano de gestão dos novos controladores do ex-banco estatal paulista, comprado no leilão de privatização no final de 2000.
O único banco público que já divulgou o lucro, a Nossa Caixa do governo de São Paulo, apresentou um resultado 41,6% menor que os nove primeiros meses de 2003. O balanço apresenta lucro de R$ 205 milhões. A redução é causada pela queda dos juros e as despesas com o Programa de Desligamento Voluntário (PDV), conforme reconhece o diretor de finanças da instituição, Rubens Sardenberg.
Em meio à divulgação do balanço de nove meses, a direção da Nossa Caixa anunciou a intenção de retomar o processo de privatização da instituição, por meio da publicação nos próximos dias de edital de venda das subsidiárias de seguros de vida e previdência e de capitalização. “É mais uma tentativa de retomar a privatização do último banco oficial do estado de São Paulo”, alerta o diretor de Bancos Estaduais da Fetec São Paulo, Elias Maalouf.
fonte: Fábio Jammal Makhoul – CNB/CUT