Lucro do Santander avança no Brasil
Os grandes negócios dos bancos estrangeiros continuam hoje onde sempre estiveram: nos mercados desenvolvidos. O ambiente de juros baixos ao redor do mundo não afetou os lucros das instituições financeiras de primeira linha. Os negócios bancários estão crescendo mais nos países desenvolvidos, mesmo que a performance econômica das nações emergentes tenha sido o melhor em três décadas.
Apesar da importância crescente do mercado brasileiro, as margens operacionais do Santander, o maior banco externo em negócios na América Latina e o nono maior do mundo em valor de mercado, aumentaram 49% na Europa, ante 19,6% no Brasil – que pratica as maiores taxas de juro do mundo – e 32% na América Latina.
A fatia do crédito concedido, a linha de frente da batalha entre os bancos, segue os mesmos padrões. O Santander tem 43% do total de empréstimos destinados a suas operações britânicas e 37% às da Espanha, diante de modestos 2% no Brasil, e 3% no México, segundo José Antonio Alvarez, diretor financeiro do grupo espanhol. O crescimento dos lucros no mercado europeu atingiu 22,8%, contra 8,5% na América Latina no primeiro trimestre do ano. O avanço do lucro no Brasil destoou da média: foi de 26% em reais e 57% em dólar – devido à valorização do real.
Esta performance não é a padrão. Nem deverá se repetir se o câmbio deixar de apresentar variações selvagens. No primeiro trimestre, o Brasil foi responsável por 11,9% dos lucros do grupo. “As moedas da região se desvalorizaram e, em nossa previsão para 2005, os lucros cresceriam, sem isso, 20% em dólares”, afirma Alvarez. “Agora a previsão é de que eles ficarão acima disso.”
As taxas de juros estratosféricas no Brasil, apesar de serem uma bênção para a rentabilidade, não são um fator de primeira ordem para a ampliação dos negócios dos bancos externos no país. A área de maior crescimento potencial no mundo é a do financiamento ao consumo, diz Alvarez. E, apesar do filão ainda se concentrar nos mercados maduros – que estão com expansão superior à da média brasileira nos últimos anos – é em países emergentes que se encontram as maiores oportunidades futuras. Os motivos são óbvios. A bancarização na América Latina é pequena e o crédito tem um largo espaço para crescer além da fatia de 27% do PIB no Brasil e 13% no México. Para Matías Inciarte, terceiro vice-presidente do Conselho de administração do Santander, “é possível atingir os 100% na região”.
O Santander não tem mais necessidade de grandes aquisições, ressalta Inciarte. Ele já detém 10% do mercado latino-americano e obteve assim, na sua avaliação, a “massa crítica indispensável” para se garantir na região.
O banco prepara-se para dar os últimos passos para se tornar um banco puro e sepultar os resquícios de suas incursões na área industrial e de serviços. Vai vender agora sua empresa de telecomunicações e, em seguida, a Cepsa, braço para distribuição de combustíveis, e a União Fenosa, da área química. Com isso, espera arrecadar ? 2,5 bilhões – ou R$ 7,5 bilhões, algo semelhante ao que pagou para ingressar no Brasil com a compra do Banespa.
O dinheiro irá para o reforço da principal fonte de receitas do grupo, o banco comercial, que garante 83% de suas receitas no mundo. Segundo o diretor financeiro, a única área que merecerá esforço aquisitivo relevante em sua estratégia é a do financiamento do consumo. “Será uma operação para completar o mercado europeu”, indica Alvarez. “Elas têm de gerar negócios da ordem de 5 bilhões de euros a 10 bilhões de euros. Não nos interessa ter como efeitos ganhos de 1 bilhão a 2 bilhões de euros.”
O tripé no qual se baseou a estratégia de expansão do Santander, diz Matías Inciarte, lhe garante “fazer quase nada para crescer”. A posição de primeiro plano no mercado espanhol, a ampliação de sua base européia e a ampliação dos laços “naturais” com a América Latina garantem ao banco um crescimento de mais de 15% nos últimos anos. A meta para 2005 é mais ambiciosa – ultrapassar os 30% e saltar dos 3,13 bilhões de euros para 5 bilhões de euros. “Qualquer que seja o cenário, os serviços financeiros irão crescer mais que o conjunto da economia”, prevê Inciarte. “Nosso trabalho exigiu muitos anos e esforços e por isso será difícil a qualquer outro banco internacional ocupar a posição que temos na América Latina”, destaca.
Inciarte não acredita que a ofensiva do JP Morgan Chase seja uma ameaça a seus negócios na região. “Ele pode tentar obter uma posição importante em um ou outro mercado relevante, mas não creio em um ataque em vários países latino-americanos”, diz. Ele calcula que algo como o que o Citigroup fez no mercado mexicano – aquisições que o deixaram no primeiro batalhão do ranking bancário – possa ser tentado pelo JP Morgan. E, caso o ataque seja ao mercado brasileiro, nem assim ele acredita que a tarefa será fácil. “Não há tantas oportunidades assim, nem uma oferta grande de bancos à venda. Vai custar muito trabalho.”
Embora o cenário mundial com que trabalham os dirigentes do banco seja otimista, eles se preparam para uma etapa nova e diferente da atual, quando a economia internacional se expandiu à sua maior taxa em três décadas. “A macroeconomia favoreceu os negócios, agora será a vez da microeconomia, da eficiência dos processos internos”, diz José Alvarez. Nele, um papel fundamental será jogado pela tecnologia, que tem uma vasta influência para a redução dos custos e para a eficácia comercial e operativa, conclui Alvarez.
fonte: Valor Econômico