LEIA EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO SOBRE ERROS NA AVALIAÇÃO DO BANESPA
Há algo de profundamente estranho no reino das consultorias privadas, pelo menos de duas delas que fizeram auditoria para o leilão que irá privatizar o Banespa. Não fosse o outrora menos prestigiado Tribunal de Contas da União, a menor proposta aceita para os lances poderia ter sofrido um “desconto” significativo, devido a erros cometidos por duas empresas privadas que realizaram o trabalho de avaliação.
O deslize mais grave foi praticado pela consultoria Booz-Allen. Do valor total do Banespa, a empresa debitou duas vezes o montante de uma multa aplicada ao banco pela Receita Federal. Por conta desse lapso, nada menos que R$ 1 bilhão foi subtraído do valor total do banco. Além desse erro, o TCU detectou outros pouco antes da publicação do edital de venda do Banespa. Se não fossem corrigidos os problemas, a diferença a menos no preço mínimo do leilão seria da ordem de R$ 100 milhões.
São duas as ordens de questionamento que emergem dessas notícias. A primeira é sobre o critério de escolha de empresas que avaliam privatizações e prestam serviços afins ao poder público. Não fica bem que dinheiro do contribuinte seja usado para pagar (e bem) por esses serviços e, no final, um órgão público tenha que corrigir erros primários cometidos na avaliação. Erros que, no caso, iriam de encontro ao interesse público de vender pelo maior preço.
É pouco plausível a hipótese de ter havido má-fé. O que sobra, porém, não é menos grave: incompetência.
Em segundo lugar, esses fatos agregam mais um ingrediente ao caso até aqui paradigmático da privatização do Banespa. Até a tentativa de desestatizar o banco, não se tinha visto no Brasil processo de privatização mais atravancado.
Isso sugere ao governo federal que é preciso voltar a enfrentar com mais ênfase a questão de como e para que privatizar também no terreno da opinião pública.
fonte: AFUBESP