LEIA ARTIGO DE BERZOINI SOBRE DECLARAÇÕES DE CARLOS EDUARDO DE FREITAS
Ricardo Berzoini*
O diretor de finanças públicas do Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas, declarou ao jornal Valor Econômico que o valor de venda do Banespa poderá “virar pó” se a privatização do Banespa não sair até o final deste ano. As declarações de Freitas demonstram desespero e irresponsabilidade por parte daqueles que deveriam se comportar como autoridades monetárias, em razão dos cargos que ocupam.
O Banespa é um banco de 91 anos, com presença forte no mercado do maior estado da federação. Detém cerca de 5% do mercado, e não avançou nestes últimos cinco anos por conta da gestão medíocre dos diretores nomeados pelo BC nesse período. O valor do Banespa não pode “virar pó”, a não ser pela falta de compromisso com a coisa pública por parte dos dirigentes do Banco Central.
A declaração de Freitas demonstra desespero, mas mais do que isso, revela como é o pensamento da geração neoliberal construída por Pedro Malan e Fernando Henrique. Para eles, o descumprimento das leis e ordens judiciais é normal e aqueles que vão ao Judiciário buscar seus direitos estão atrás de “picuinhas”. Esse sentimento de angústia diante da dificuldade de cumprir os planos estabelecidos em obediência aos interesses do FMI, ou seja, dos bancos internacionais, é revelador. Em outro trecho da entrevista, o diretor do BC escancara sua visão de democracia: “As pessoas que se opõem à privatização procuram, por meio que não considero legítimo, impedir que o governo leve adiante uma política consagrada nas urnas por duas vezes”. Para eles, um governo eleito pode tudo, e o poder judiciário deve apenas legitimar “a vontade das urnas”.
O mesmo governo FHC, pretendendo preparar a privatização dos bancos federais, contratou a Booz Allen para produzir um diagnóstico a respeito do Banco do Brasil, Caixa Federal, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia. Divulgou, há poucos dias, um suposto “prejuízo futuro” desses bancos, estimado em bilhões de reais. Tamanha irresponsabilidade é coerente com as declarações de Freitas ao jornal Valor e reforça o nosso sentimento de que, cada vez mais, vale a pena lutar para que o patrimônio público representado pelas instituições financeiras públicas que ainda restam sejam preservadas e democratizadas, para que ainda tenhamos instrumentos de governo. E para que a concepção de democracia e separação de poderes revelada por esses anos FHC não prevaleça. A democracia de verdade separa os interesses de governo dos de Estado e separa os poderes, justamente pretendendo defender a sociedade dos governos autoritários e arrogantes.
*Ricardo Berzoini é Deputado Federal e presidente do Partido dos
Trabalhadores na cidade de São Paulo.
Tel.: 011-3105.0821 / ricardo@berzoini.org
fonte: AFUBESP