Imprensa critica ganância dos banqueiros
A Folha de S. Paulo virou o seu alvo para os banqueiros e durante toda esta semana tem criticado diariamente a ganância do sistema financeiro nacional. O maior destaque ocorreu na edição desta terça-feira, quando o jornal revelou em sua principal manchete que, de janeiro de 2003 a dezembro de 2004, as tarifas sobre serviços cobradas por instituições bancárias privadas e públicas subiram em proporções muito superiores à inflação do período. A reportagem revelou casos em que o aumento chegou a 100%.
Um dia antes, no entanto, a Folha já criticava os banqueiros. Na edição de segunda-feira, o economista Marcos Cintra, atual secretário das Finanças de São Bernardo do Campo (SP), chamava a atenção para o problema citando números contundentes: entre 1994 e 2003 a receita com tarifas dos 18 maiores bancos que atuam no país saltou de R$ 2,5 bilhões para R$ 21 bilhões. A origem do fenômeno, segundo ele, está na tentativa das instituições de obter novas fontes de receita para compensar as perdas causadas pelo controle da inflação. Serviços que não eram tarifados passaram a sê-lo, outros foram criados e as cifras subiram de maneira desmedida.
“Este destaque que a Folha de S. Paulo tem dado para os aumentos exorbitantes das tarifas já vem sendo trabalhado pelo movimento sindical bancário há anos. Sempre denunciamos esta exploração da sociedade, inclusive por vários anos reivindicamos a redução das tarifas em mesa de negociação. O Brasil é considerado um dos países que mais concentra renda no país e as tarifas bancárias são o exemplo mais claro desta distorção, pois transfere a renda do trabalhador para o já polpudo lucro dos banqueiros”, afirmou Paulo Stekel, secretário de Finanças da CNB/CUT. Ele destacou que os ganhos auferidos com tarifas são suficientes para cobrir os gastos do setor com folha salarial. “Em alguns casos, como no banco Itaú, as tarifas chegam a quase duas vezes o valor despendido com a folha de pagamento”, completou.
Nesta quarta, a Folha de S. Paulo voltou ao tema, desta vez em seu principal editorial, na página 2. O texto, que reflete a opinião do jornal, diz que “a escalada das tarifas inscreve-se num quadro de baixa concorrência, que restringe as alternativas dos consumidores. A simples decisão de trocar de banco no Brasil pode implicar uma série de inconvenientes para o correntista – e é raro encontrar vantagens que justifiquem a mudança”.
A Folha aborda ainda o problema da concentração financeira no país, como destacou Stekel, e conclui: “A situação é complexa e exige medidas corretivas. Uma delas seria conceder ao CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão responsável pela defesa da concorrência, poderes para também fiscalizar a área financeira, hoje uma atribuição exclusiva do BC, que muito pouco tem feito para mudar esse quadro”.
fonte: Fábio Jammal Makhoul – CNB/CUT