Estudo defende novo conceito de aposentadoria
O envelhecimento da população sugere uma mudança no conceito de aposentadoria e vai impor mais um desafio aos governos e à sociedade: o estabelecimento de políticas que permitam a inclusão da mão-de-obra com idade superior a 60 anos. Essa é um das conclusões da pesquisa O Futuro da Aposentadoria, feita pelo Banco HSBC em 21 países.
O estudo mostra que 86% dos pesquisados com idade acima de 70 anos se sentem bem de saúde e ainda contribuem para a economia, seja com trabalho remunerado ou voluntário. As estatísticas demonstram que os idosos, atualmente, contribuem mais do que recebem da sociedade.
“É preciso reconhecer os benefícios dados pelos mais velhos. É verdade que existe algum grau de dependência do Estado, mas ele não tem aumentado, apesar de ter crescido o porcentual de pessoas com mais de 60 anos”, analisa Richard Jones,responsável pela área de aposentadoria do HSBC em Londres.
Com relação ao Brasil, um dado em particular demonstra o grau de independência dos aposentados. De acordo com o estudo, 60% não estão preocupados com a falta de dinheiro. Além disso, 89% dos idosos com mais de 70 anos têm trabalho remunerado, porcentual que sobe para 50% entre as pessoas com idade de 50 a 59 anos. “Nós temos cada vez mais pessoas saudáveis, independentes e com disposição para trabalhar e aproveitar a vida”, diz o executivo.
Anna Pustiglione Viana, de 83 anos – “mas aparentando bem menos”-, é um bom exemplo. O dia tem poucas horas para acomodar seus compromissos. Anna faz parte da diretoria de uma centro de convivência voltado para pessoas da terceira idade, no bairro paulistano de Pinheiros. Lá, organiza atividades culturais e ainda faz ginástica e alongamento. Todas as quartas, tem campeonato de carteado. Às sextas-feiras, os programas variam de chás com as amigas a jantares, cinema e teatro.
“No resto do meu tempo faço tudo sozinha: vou ao médico, ao supermercado, ao banco. Deus me livre de ficar em casa fazendo tricô”, brinca.
Anna é viúva e há 12 anos mora sozinha. “Faço questão da minha privacidade”, diz. Criou quatro filhos e hoje tem como fontes de renda a aposentadoria de R$ 380 e o aluguel de dois apartamentos. Também tem cotas do Shopping Iguatemi. “A gente precisa ocupar a cabeça para não ficar esclerosada”, diz, rindo.
A mesma filosofia é compartilhada por Piero Bendinelli, de 67 anos. Mesmo tendo se aposentado, ele passa metade do dia trabalhando – vende tecidos para confecções do Brás e Bom Retiro – e, no tempo livre, é artista plástico. Autodidata, quer fazer cursos e aprender a esculpir. “Até certa idade, a gente vive para planejar o futuro. Depois, simplesmente vive o presente. Quero viver intensamente.”
fonte: O Estado de S.Paulo