EDITORIAL: Menos juros, mais desenvolvimento
A Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) participa nesta quinta-feira, 19, da manifestação organizada pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), que inclui a CUT, em frente à sede do Banco Central, em Brasília, no lançamento da campanha “Menos juros, mais desenvolvimento”.
A atual re-escalada de aumento dos juros iniciada agora em abril pelo Copom, segundo análise consensual que vai dos “mercadistas” ao Dieese, deve empurrar a taxa Selic para mais de 14% no final do ano – disparada, a mais alta taxa de juros do planeta.
A conseqüência imediata disso é que “já se projeta uma desaceleração do PIB para 2009, talvez em torno dos 4%”, segundo estudo produzido pelo GT Conjuntura do Dieese.
Além de estancar o crescimento, reduzir a geração de empregos e ameaçar os salários dos trabalhadores, a política de juros altos do BC acelera o movimento concentrador de renda. Somente no primeiro quadrimestre deste ano, com a taxa Selic menor do que a projetada para o futuro, o país já desviou do Tesouro R$ 44,4 bilhões para pagar juros e encargos da dívida pública, quantidade de recursos superior aos R$ 40 bilhões de investimentos previstos no Orçamento de 2008.
O Banco Central justifica a nova escalada de juros brandindo o fantasma da inflação. Mas, exceção feita aos economistas dos bancos e seus porta-vozes na mídia, ninguém leva a sério esse prognóstico. E há quem acuse o terrorismo do BC como alimentador do processo inflacionário.
Para o Dieese, diminuiu o descompasso entre a demanda interna e a capacidade produtiva da indústria, que cresceu 7,3% no primeiro trimestre do ano, acima da expansão de 6,6% do consumo das famílias.
“A análise dos números no período não deixa margem de dúvida de que o aumento da inflação se deve basicamente aos alimentos”, sustenta o Dieese em seu estudo de conjuntura. “A alta dos preços não foi generalizada, concentrando-se em apenas seis itens básicos da alimentação: arroz, feijão, carne, óleo, derivados de trigo e leite”, acrescenta o estudo, que atribui essa elevação de preços a problemas climáticos, recomposição de margens, preços internacionais e aspectos relacionados com as importações e exportações.
Para os economistas do Dieese, “muitos desses problemas que levaram ao crescimento da inflação já estão sendo equacionados” e o que precisa ser feito é “aumentar, de forma ágil, a oferta de alimentos e não permitir que o ajuste inflacionário se dê à custa da população de menor poder aquisitivo”.
É praticamente consenso entre os economistas que não rezam pela cartilha neoliberal que há caminhos fora dos juros, com menos efeitos colaterais, para enfrentar esse período de desajuste. O próprio Banco Central, em sua publicação quinzenal “Focus-Relatório de Mercado”, aponta uma inflação de 5,8% para este ano e de 4,6% para 2009 – portanto, dentro da meta fixada pelo governo federal.
Economistas insuspeitos de esquerdismo, como o ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, já demonstraram que as premissas do BC não são amparadas na ciência econômica, mas na crença ideológica dos adoradores do mercado.
Por isso, a campanha desencadeada pela CMS e pela CUT é um alerta urgente e necessário, que precisa se irradiar a toda a sociedade brasileira, antes que essa política irracional do BC comprometa o ciclo de crescimento econômico iniciado pelo país em 2004, depois de quase um quarto de século de estagnação. Crescimento que, além de robusta geração de emprego, pela primeira vez na nossa história vem acompanhado de distribuição de renda, ainda que não no ritmo desejável.
Mais do que nunca, o Brasil precisa de um Banco Central independente do sistema financeiro e mais dependente das políticas públicas que gerem mais emprego e renda para os trabalhadores.
Direção da Contraf-CUT
fonte: Contraf-CUT