CUT faz plenária em repúdio à morte de sindicalista no RS
A CUT-RS promoveu na segunda-feira, dia 3, no Sindicato dos Sapateiros de Sapiranga (Rio Grande do Sul), uma plenária com sindicatos, movimentos sociais e entidades ligadas aos direitos humanos, para planejar atividades de mobilização e protesto contra o assassinato de Jair Antonio da Silva, que ocorreu durante uma manifestação contra o desemprego, realizada na última sexta-feira, dia 30 de setembro, em Sapiranga.
Segundo laudo de óbito do Departamento Médico Legal, o representante do Sindicato dos Sapateiros de Igrejinha foi vitimado por asfixia, seguida de contusão hemorrágica na laringe e traumatismo cervical.
Durante a reunião desta tarde, foi criado um comitê integrado por sindicalistas que servirá como observatório encarregado de acompanhar não só a apuração da morte de Jair como toda a política de segurança pública praticada pelo governo Rigotto.
De acordo com os sindicalistas, vão ser questionados especialmente os inquéritos abertos para investigar os delitos de policiais civis e militares e que, sem conclusão, favorecem a impunidade.
Foi aprovado a realização de uma manifestação na quinta-feira, dia 6, às 17h, em Sapiranga, no local onde Jair foi cruelmente assassinado. Na sexta-feira, dia 7, ocorrerá um grande protesto em Porto Alegre, com concentração às 15h em frente à Secretaria da Justiça e da Segurança (SJS), na rua Voluntários da Pátria. Depois, os participantes sairão em caminhada até o Palácio Piratini, onde será promovido um ato público contra a violência e a política de insegurança de Rigotto.
Assassinato abominável
Conforme trabalhadores que acompanharam a tragédia, Jair morreu após ser imobilizado por PMS que entraram em confronto com manifestantes quando o ato público já estava sendo encerrado, por volta das 18h. Jair chegou ao Hospital Sapiranga com parada cardiorrespiratória.
Uma equipe de médicos e enfermeiros tentou a reanimação, sem sucesso. De acordo com os manifestantes, o sindicalista foi agredido, asfixiado com um cacetete e algemado.
Cerca de 3 mil sapateiros de Sapiranga, Rolante, Campo Bom, Novo Hamburgo e Igrejinha haviam iniciado o ato por volta das 17h, conforme combinado entre os representantes da categoria e a BM, para garantir o fluxo de veículos no local e a segurança dos próprios manifestantes. Pouco mais de um hora depois, Jair estava morto.
O deputado estadual Adão Villaverde, do PT, destacou a importância da trajetória do sindicalista Jair Antônio da Costa. O parlamentar relembrou que Jair dedicou boa parte de seus 31 anos de vida à luta pela dignidade no trabalho. E que sucumbiu cumprindo a tarefa de buscar justiça social para os trabalhadores sapateiros que representava.
Jair morreu lutando pela manutenção de emprego, defendendo o direito ao acesso ao trabalho e carregando uma faixa pedindo justiça e democracia. Casado, com dois filhos, ele trabalhava há 10 anos na empresa Calçados Beira Rio.
Os bancários participaram da plenária em Sapiranga, através do diretor de formação da Federação dos Bancários do RS, Carlos Augusto Rocha, e das diretores do Sindicato dos Bancários do Vale do Paranhana, Tânia e Arlete.
Também participaram do evento os deputados estaduais Dionilso Marcon, Edson Portilho, Estilac Xavier e o federal Adão Preto, além de representantes dos parlamentares federais Marco Maia, Maria do Rosário e Tarcisio Zimmermann, dos estaduais Fabiano Pereira e Ronaldo Zulke e do senador Paulo Paim.
Compuseram a mesa principal o presidente da Federação Democrática dos Sapateiros, João Batista Xavier, o presidente do Sindicato dos Sapateiros de Sapiranga, Antonio Machado; o presidente da CUT/RS, Quintino Severo, e o deputado Marcon, presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos.
Nota oficial de protesto da CUT Nacional
A Direção Nacional da CUT divulgou nota oficial na segunda-feira, dia 3, onde manifesta seu veemente repúdio ao assassinato do sindicalista Jair Antônio da Costa, dirigente do Sindicato dos Sapateiros de Igrejinha (RS), vítima de abominável truculência da Brigada Militar no último dia 30 de setembro, em Sapiranga.
A CUT exige apuração rigorosa e imediata, e punição exemplar de todos os responsáveis, quaisquer que sejam. Pressionaremos, com todos os instrumentos de que dispomos, para que a justiça prevaleça.
Numa sociedade democrática é ainda mais inadmissível que uma manifestação pacífica seja reprimida à força. A atitude policial que vitimou o companheiro Jair é um atentado à vida e à atividade sindical.
Causa-nos apreensão as recentes intervenções da brigada militar em manifestações públicas, como a ocorrida no estádio Beira Rio, no último domingo. A escalada da violência policial no Rio Grande do Sul demonstra, no mínimo, despreparo.
Pouco antes de ser atacado, Jair carregava uma faixa que pedia justiça e democracia. Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para que esses dois valores predominem nesse caso. A CUT está vigilante e à disposição de familiares e demais companheiros. A violência do último dia 30 atinge todos os trabalhadores brasileiros e lança uma mancha sobre o Brasil do século 21.
João Felicio, presidente nacional da CUT
fonte: CUT