Com o Real, Santander passará a ser o maior banco de São Paulo
A compra do Banco ABN AMRO Real vai tornar o Santander uma máquina poderosa no mercado brasileiro. Será o maior banco privado em depósitos, segundo em ativos totais e terceiro em crédito.
Em algumas praças, pode até se tornar imbatível. O Santander, que já possui o Banespa, terá o recorde absoluto de agências no Estado de São Paulo, que concentra 34% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Além disso, terá 63,4% dos depósitos e 60,8% do crédito. O Santander já tinha 752 agências em São Paulo e agora vai agregar as 438 do Real, atingindo 1.190. Será uma rede maior do que a de 1.105 agências do Bradesco e a de 810 do Itaú. O Santander vai passar até mesmo o Banco do Brasil, que tem 770 agências no estado paulista.
Em toda a região Sudeste, o banco sairá fortalecido com a aquisição. No Rio, onde tinha uma presença tímida, chegará a 245 agências, bem perto das 263 do Bradesco. Em Minas, acontecerá o mesmo e somará 166 agências. No Sudeste, os bancos captam 75,2% dos depósitos totais do país que somavam R$ 1,375 trilhão em junho; e concedem 60,8% do crédito, que montava a R$ 808,3 bilhões na mesma época.
Agência é importante para um banco de varejo mas não é tudo. Os clientes brasileiros não mudam para um novo banco porque ele tem uma agência a 50 metros da sua residência, disse o responsável pela Fitch Ratings no Brasil, Rafael Guedes.
Mas os concorrentes já estão preocupados. Documentos do próprio Santander dizem que o banco vai dobrar sua fatia no mercado brasileiro para 12%, mas chegará a 16% na região Sudeste e a 20% no Estado de São Paulo. No Rio e em Minas, o ganho será maior, com o Santander passando de 3% para 13% de fatia de mercado; e de 2% para 9%, respectivamente.
Em documento enviado a acionistas, o Santander afirma que a compra do Real proporcionará um complemento ideal para nossa presença na América Latina. Com a operação, teremos uma participação de mercado ao redor de 15% nos dois maiores mercados da região, Brasil e México, uma participação superior a 20% no Chile, e superior a 10% em outros mercados como Argentina, Venezuela e Porto Rico.
Com a aquisição, garante o banco aos acionistas, teremos uma participação de mercado semelhante à do Bradesco e Itaú. Nota porém que, mesmo auferindo toda a sinergia projetada para a operação, o lucro líquido consolidado pro-forma, estimado em US$ 3,8 bilhões por volta de 2010, ainda seria cerca de 25% inferior ao dos dois bancos. Salienta, porém, que o objetivo a médio prazo é ter o mesmo lucro que os dois maiores bancos brasileiros de capital nacional, com a captura das sinergias, melhora dos lucros e desenvolvimento da marca.
A se julgar pela promessa feita aos acionistas, a marca Real deverá ser mantida por algum tempo. Em vários processos de integração de bancos adquiridos na América Latina, isso aconteceu. Mas a tendência é convergir para a marca única.
A expectativa do Santander é fazer a integração em três anos, de modo que as sinergias serão refletidas no balanço de 2010.
As sinergias de custo proporcionarão um ganho de 700 milhões de euros e as de lucro líquido, de 110 milhões de euros, totalizando 810 milhões de euros.
Em informe enviado aos acionistas, o Santander detalha a composição das economias de escala, que representam 32% dos custos pro-forma de 2006. A maior parte – 305 milhões de euros – virá da redução de custos e maior eficiência. O banco diz que as despesas administrativas do Real são elevadas em relação ao volume de negócios.
Uma parcela substancial de 150 milhões de euros virá da integração da área de tecnologia da informação em uma plataforma única. Mais 40 milhões de euros serão obtidos com a integração dos serviços de back office e de tecnologia da informação. O Santander ressalta que haverá impacto na operação de terceirização dos serviços de tecnologia e não na folha do Real.
A integração administrativa de negócios globais e das atividades de apoio proporcionará uma economia de 70 milhões de euros.
O Santander calcula ainda um ganho de 135 milhões de euros com a consolidação comercial e realocação de agências.
Já o ganho de 110 milhões de euros nos resultados, equivalente ao crescimento de 3% do lucro dos negócios adquiridos, virá da otimização da rede e adoção de melhores práticas administrativas.
O Santander diz que pode contribuir com a experiência de comercialização de fundos no varejo, banco de negócios e operações com grandes empresas e clientes afluentes. Já o Real trará a especialização em negócios com pequenas e médias empresas e no financiamento ao consumo.
fonte: Maria Christina Carvalho – Valor Econômico