Campanha salarial 2004: negociação engessada
Banqueiros acham que bancários ganham bem demais, têm ótimas condições de trabalho e que reivindicações podem “engessar estratégias comerciais” dos bancos
Os representantes de alguns dos onze maiores bancos do país, que tiveram seus lucros aumentados em mais de 1.000% em uma década, acham que os bancários ganham muito bem, têm salários incomparáveis e que qualquer alteração nesse quadro pode aumentar os custos fixos e trazer complicações para a estratégia das empresas. Foi com esse tipo de afirmação que os banqueiros tentaram rebater as cláusulas econômicas e sobre emprego analisadas na última terça, dia 6, durante rodada de negociação. “Discutir aumento real é muito complicado fora da participação nos lucros”, afirmou o negociador da Fenaban, Magnus Ribas Apostólico.
A regulamentação da remuneração variável é um exemplo claro de como os banqueiros se recusam a enxergar além dos próprios lucros. A comissão da Fenaban declarou que contratar a remuneração “engessaria a concorrência entre os bancos”.
O presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Luiz Cláudio Marcolino, lembrou que a parte fixa dos salários vem sendo encolhida e que a remuneração variável tem peso cada vez maior. “Não há como os bancos decidirem sozinhos como pagam os trabalhadores. Isso tem que ser debatido com os sindicatos, constar do contrato coletivo para que os bancários estejam protegidos”, ressaltou.
Em muitos casos, os valores pagos como remuneração variável, a título de vendas de produtos, ficam congelados, mesmo depois que os preços são aumentados para os clientes. Ou seja, os bancos repassam custos aos consumidores de seus serviços, mas não dão o mesmo retorno aos salários dos trabalhadores.
Incomparável – Para as cláusulas de 14º salário e manutenção do nível de emprego, os negociadores dos banqueiros repetiram a lengalenga de que os bancos não têm condições de “introduzir esses elementos no acordo”. Para rechaçar, Marcolino apresentou índices que demonstram o estrondoso sucesso nos resultados dos bancos nos últimos dez anos. “O setor só tem apresentado retorno positivo. Mas no mesmo período o número de bancários foi reduzido e o piso salarial da categoria despencou.”
Outros índices demonstram que os banqueiros estão redondamente enganados na avaliação de que “a remuneração dos bancários está permanentemente crescendo”. “Os trabalhadores estão endividados, ‘pendurados’ no cheque especial e não fazem isso por hobby”, diz Marcolino.
A próxima negociação acontece dia 20, quando deverão ser discutidas cláusulas sociais e sindicais, além de jornada de trabalho. “Ficou evidente que a responsabilidade social que os banqueiros propagam não se estende aos seus funcionários. Eles não querem garantir nível de emprego, proteção contra demissões imotivadas (Convenção 158 da OIT) nem aumento real de salários. Ou seja, vai depender da nossa disposição de luta desengessar essa postura”, afirma Marcolino.
fonte: Folha Bancária/Seeb SP