Bancos brasileiros são campeões de lucros
Os bancos brasileiros não têm do que reclamar. Apoiados nas mais elevadas taxas de juros do mundo, estão crescendo a passos largos e deixando para trás os principais concorrentes da América Latina. Levantamento divulgado segunda-feira, dia 21, na 39ª Assembléia Anual da Federação Latino-Americana de Bancos (Felaban) mostra que o Brasil é sede de 63 (ou mais de um quarto) das 250 maiores instituições bancárias da região.
Entre as 10 maiores, sete são brasileiras, com a liderança nas mãos do Banco do Brasil, seguido, respectivamente, por Bradesco, Caixa Econômica Federal e Itaú. Sozinho, o BB detém ativos de US$ 99,5 bilhões, o dobro dos recursos administrados pelo mexicano BBVA Bancomer (US$ 49 bilhões), o quinto colocado no ranking elaborado pela revista América Economia e o primeiro quando se exclui o Brasil.
“Sabemos que as taxas de juros no Brasil são muito altas. Portanto, não é surpresa que os bancos apresentem resultados tão expressivos”, disse Juan Antonio Niño, presidente da Felaban. “Na média, as taxas de juros cobradas pelos instituições latino-americanas são maiores do que as praticadas nos Estados Unidos.
No Brasil, porém, os juros são ainda mais elevados”, acrescentou Seno Brill, presidente da Associação dos Bancos Internacionais da Flórida (Fiba, sigla em inglês). Mas eles não usam a taxa básica de juros (Selic), de 19% ao ano, para medir a capacidade dos bancos brasileiros de engordar seus números.
O que lhes dá a real dimensão de como as instituições do Brasil se tornaram verdadeiras fábricas de fazer dinheiro é o que os especialistas chamam de spread bancário, ou margem líquida, a diferença entre o que os bancos pagam aos poupadores e o que cobram dos tomadores de empréstimos. Na média, a margem líquida dos bancos brasileiros é de 39,7%. Ou seja: de cada R$ 100 que as instituições financiam, R$ 39,70 entram em seus caixas limpinhos.
No Paraguai, o país latino-americano que está mais próximo do Brasil quando o assunto é spread, a margem é de 28,4%. Na outra ponta, mais favorável aos clientes, os bancos chilenos praticam margem de lucro de 3,2%. Em El Salvador, tal relação é ainda menor: apenas 3%.
Eficiência
A voracidade dos bancos brasileiros se reflete em outro importante indicador, a rentabilidade patrimonial – ou lucro líquido dividido pelo patrimônio. Na média das maiores instituições, essa rentabilidade gira em torno de 30%. Quer dizer: a cada três anos, com os lucros acumulados, os bancos dobram de tamanho. No México, que detém o maior Produto Interno Bruto (PIB) da região, a rentabilidade média do sistema financeiro é de 20%, mesmo percentual verificado no Chile. “Os bancos brasileiros têm um grande diferencial. Tornaram-se muito eficientes, pois foram obrigados a enfrentar um longo período inflacionário e uma série de crises econômicas. Apenas com as tarifas que cobram da clientela pagam toda a folha de pessoal”, afirmou o presidente do Banco Paulista, Álvaro Augusto Vidigal.
Na avaliação de Juan Niño, da Felaban, independentemente do tamanho dos lucros, pode-se afirmar que, hoje, o sistema financeiro latino-americano está muito mais sólido e preparado para encarar momentos de turbulência. Mas há um grande desafio pela frente: o de ampliar o acesso da população de mais baixa renda ao sistema bancário. Nos países menos desenvolvidos, somente 10% dos cidadãos têm algum tipo de relação com as instituições financeiras. Essa distância entre bancos não só aumenta a informalidade da economia como limita o processo de crescimento econômico.
fonte: Correio Braziliense