Bancários e Fenaban instalam mesa sobre segurança
Um funcionário do Banco do Brasil chegou na sexta-feira, dia 15, ao trabalho, na agência do Mercado Negreiros, em São Paulo, com uma bomba amarrada na cintura. Ele queria levar dinheiro para um grupo de seqüestradores que mantinha a sua família refém. Enquanto esta cena se desenrolava, num outro ponto da cidade a Contraf-CUT e Fenaban se reuniam para a instalação oficial da mesa temática de segurança bancária e os banqueiros vieram de mãos vazias.
Durante a reunião, os representantes dos trabalhadores reafirmaram a necessidade de discutir todas as reivindicações, que já são conhecidas dos banqueiros. “Fizemos um resgate sobre os problemas de segurança que clientes e bancários enfrentam diariamente nas agências. O número de assaltos a bancos tem crescido muito. Só na região metropolitana de São Paulo aumentou em 68% no último semestre. Fora os seqüestros de bancários e as mortes que ocorreram nos bancos. Só este ano, mais de 15 pessoas perderam suas vidas. Cobramos responsabilidade da Fenaban para negociar uma solução para o problema da segurança”, explica Carlos Cordeiro, o Carlão, secretário-geral da Contraf-CUT.
Os bancários, entretanto, ficaram chocados ao ouvirem dos banqueiros que a Fenaban não tinha qualquer proposta para apresentar. “Os negociadores dos banqueiros disseram apenas que não iriam tratar de questões técnicas e que só poderiam analisar o que tinha relação com o trabalho, descartando propostas como a instalação da porta giratória de segurança com detector de metal na entrada de todas as agências”, aponta o diretor do SindBancários e representante do RS na Comissão de Segurança Bancária, Ademir Wiederkehr.
Além do problema do auto-atendimento, os bancários querem soluções para acabar com o transporte irregular de dinheiro feito por muitos bancários e a política de obrigar gerentes, tesoureiros e vigilantes a levar para casa a chave das agências. “Tanto o transporte de dinheiro como a custódia da chave devem ser atribuições de uma empresa de segurança. Mas os bancos não estão nem aí, não há um plano de segurança. Tudo isso porque os banqueiros estão mais preocupados em proteger o dinheiro que a vida das pessoas”, ressalta Carlão.
Outro problema é falta de emissão da CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) para quem foi vítima de assaltos e seqüestros. Vários bancários são inclusive demitidos pelos bancos, enquanto outros não recebem assistência médica e psicológica custeada pelos bancos.
“Diante da insistência dos bancários em debater o assunto, pois se trata da proteção da vida, os representantes da Fenaban concordaram em marcar nova reunião e ficaram de apresentar uma resposta às reivindicações da minuta da Campanha Nacional que tratam de segurança”, destaca Ademir. Esse encontro foi pré-agenda para o início de fevereiro e a data será confirmada no final de janeiro. As duas partes também poderão levar novas demandas para essa negociação.
“Esperamos avanços já na próxima rodada de negociações. Nossa pauta está com os banqueiros; eles queriam ouvir e ouviram. Agora é atender nossas demandas e mostrar que a tão falada responsabilidade social não é apenas retórica para a propaganda. Responsabilidade social começa em casa e garantir a segurança dos seus empregados é o mínimo que os bancos devem fazer”, defende Gutemberg Oliveira, secretário do Jurídico da Fetec São Paulo.
Participaram representantes da Fenaban e dos seguintes bancos: Bradesco, Unibanco, HSBC, Santander Banespa, Banco do Brasil, ABN Real, Caixa Econômica Federal e Nossa Caixa.