ATO EM DEFESA DO BANESPA NA CÂMARA DE PORTO ALEGRE
Os banespianos comemoraram em Porto Alegre as três liminares que suspendem a privatização, mantendo o calendário de mobilização e realizando uma baita manifestação nesta tarde de quarta-feira, dia 23, contra a privatização do Banespa, no plenário da Câmara Municipal.
Na oportunidade, o diretor do Sindicato dos Bancários e da Afubesp, Ademir Wiederkehr, fez um pronunciamento (íntegra abaixo) no espaço da Tribuna Popular, pedindo mais uma vez o apoio dos vereadores e da sociedade para impedir a venda do Banespa e transformá-lo num banco público de verdade.
Ademir enfatizou a importância do Banespa para São Paulo e o Brasil, destacou o projeto de banco público, denunciou as ilegalidades cometidas no processo, mostrou a manipulação da grande mídia e a necessidade de suspender as privatizações.
O diretor da Afubesp entregou também para a presidência da Câmara Municipal uma cópia do dossiê “Privatização do Banespa – uma afronta ao estado de direito e à ordem constitucional”.
Na avaliação de Ademir, “foi uma importante manifestação contra a privatização. “Apesar das liminares, não podemos baixar a guarda. Precisamos continuar dialogando com a sociedade e combinar mobilizações e ações judiciais. Nós ainda vamos ganhar essa guerra”.
Manifestaram-se os vereadores Adeli Sell (PT), Isaac Ainhorn (PDT), Clenia Maranhão (PMDB), Luiz Braz (PTB) e Reginaldo Pujol (PFL), expressando apoio e solidariedade à luta dos banespianos. Cerca de 50 funcionários da ativa, aposentados e diretores do Sindicato e da Federação dos Bancários, Afaban-RS e Afaban-SC participaram da atividade.
A seguir, íntegra do pronunciamento de Ademir:
CÂMARA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE
A LUTA CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DO BANESPA
Pronunciamento de Ademir Wiederkehr, diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e da Associação dos Funcionários do Banespa (Afubesp), feito em 23.02.2000, na Tribuna Popular.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Vereadores, Colegas do Banespa, companheiros do Sindicato e da Federação dos Bancários, Senhoras e Senhores.
Ocupo neste momento a Tribuna Popular, em nome do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, da Associação dos Funcionários do Banespa (Afubesp) e da Associação dos Funcionários Aposentados do Banespa no Rio Grande do Sul (Afaban-RS) para falar da nossa resistência contra a privatização do Banespa e da nossa luta para transformá-lo num banco público de verdade.
Desde o final de 94, quando o Banco Central decretou intervenção no Banespa, nós, funcionários da ativa e aposentados, estamos brigando contra a privatização. Porque o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, com a submissão do governador Mário Covas, quer entregar o Banespa para os banqueiros, que foram os maiores financiadores de suas campanhas eleitorais.
São, pois, mais de cinco anos de resistência, onde procuramos não apenas entrar na Justiça para questionar as inúmeras ilegalidades praticadas pelo Banco Central no processo de privatização, mas principalmente dialogar com a sociedade para mostrar a importância do Banespa e oferecer alternativas para um novo modelo de gestão, capaz de evitar a ingerência política dos governos de plantão e garantir a participação e o controle da sociedade na definição dos rumos do banco.
Eu já perdi a conta do número de vezes que nós, funcionários da ativa e aposentados do Banespa, estivemos nesta Casa, dialogando com as Senhoras e Senhores Vereadores e pedindo apoio para o nosso movimento.
Lembro-me da primeira vez, em 95, pouco depois da intervenção, quando dividi o tempo nesta tribuna com um companheiro do Banerj. Pedimos a aprovação de uma moção para ser enviada às autoridades competentes, buscando impedir tanto a venda do Banespa como a do Banerj.
Graças à nossa resistência e o apoio de amplos setores da sociedade, o Banespa não foi privatizado, apesar de toda pressão dos banqueiros e do FMI. Infelizmente, o mesmo não vale para o Banerj. Sem essa resistência, o Banerj foi entregue em 97 para o Banco Itaú por apenas R$ 300 milhões, quase tudo pago com moedas podres.
Todas as agências do Banerj fora do Estado do Rio de Janeiro foram fechadas e os funcionários demitidos. Foi o que aconteceu com a agência de Porto Alegre, ali na Rua Uruguai, ao lado da Prefeitura. No mesmo local existe hoje uma agência do Itaú, selecionando clientes, elitizando o atendimento, cobrando tarifas abusivas e altas taxas de juros. Não é à toa que o Itaú lucrou R$ 1,8 bilhão no ano passado.
Lembro-me também que estivemos aqui em 96, pedindo a aprovação de um projeto de lei para a doação de 150 mil ações ON do Banespa para a Prefeitura de Porto
Alegre. Cada um dos funcionários e aposentados do banco comprou um lote de mil ações para tornar o município acionista do Banespa, dentro do projeto de banco público que elaboramos para mudar a gestão do banco.
Nós queremos que o banco não seja administrado apenas por uma diretoria e um conselho de administração nomeados pelo governo do Estado.
Nós queremos que os municípios, que são os principais parceiros do Banespa, principalmente no Estado de São Paulo, tenham representantes no Conselho de Administração.
Nós queremos que este banco, que responde sozinho por quase metade dos contratos de crédito rural, garantindo custeio, investimento e comercialização da produção agrícola, tenha representantes dos agricultores no Conselho de Administração.
Nós queremos que este banco, que financia micro, pequenas e médias empresas, que geram a maioria dos empregos neste país, tenha também representantes desse segmento no Conselho de Administração.
Nós queremos ainda que o funcionalismo do Banespa, que nunca descuidou dos serviços do banco e do atendimento da clientela, que não se calou diante do uso político do banco, como nos governos Maluf, Quércia e Fleury, tenham também representantes no Conselho de Administração. Mesmo com a intervenção do Banco Central e os ataques de setores da mídia contra a imagem do Banespa, os funcionários continuam mantendo o banco forte no mercado, com quase três milhões de clientes e com lucro no balanço.
Nós queremos também criar conselhos municipais de usuários, onde aqueles que precisam de crédito participem das decisões. Enfim, nós queremos transformar o Banespa num banco público de verdade.
Lembro-me que a última vez que ocupamos esta tribuna popular foi no dia 14 de junho do ano passado, quando o Banespa completou 90 anos de história. Uma história que se confunde com a história do desenvolvimento econômico e social de São Paulo e do Brasil.
Uma história de investimentos, que incluem grandes obras, como rodovias, metrô, hidroelétricas, saneamento básico e infra-estrutura. Obras que melhoram a qualidade de vida da população.
Mas também uma história de investimentos nos pequenos. O Banespa financia micro, pequenos e médios agricultores. Hoje, o valor médio dos contratos de crédito rural é de R$ 14 mil. O pouco que os bancos privados investem vai para os grandes produtores. Por isso, não podemos permitir jamais a privatização do Banespa, assim como precisamos preservar o Banco do Brasil, a instituição que mais financia a agricultura em nosso país.
Esses 90 anos de história ajudaram a melhorar a vida dos paulistas e brasileiros. O Banespa possui mais de 500 agências, das quais cinco no Rio Grande do Sul, sendo duas em Porto Alegre, uma em Caxias do Sul, uma em Novo Hamburgo e outra em São Leopoldo. O banco conta com cerca de 21 mil funcionários e 14 mil aposentados, que com o seu trabalho cotidiano e a confiança dos clientes construíram a grandeza do Banespa, símbolo do Estado de São Paulo e patrimônio do povo brasileiro.
Hoje estamos aqui novamente para pedir o apoio das Senhoras e Senhores Vereadores e da população de Porto Alegre para que seja suspenso o processo de privatização do Banespa.
No último dia 10 de janeiro, o Banco Central publicou um edital de pré-qualificação para os interessados na venda do Banesp
fonte: AFUBESP