Analista diz que bancos só se preocupam com lucros e não em melhorar serviços
Lucros invejáveis, crescentes e recordes. Negócio da China ou de bancos no Brasil? Acertou quem escolheu a segunda alternativa. Saiu hoje o lucro do Itaú no primeiro trimestre: R$ 1,46 bilhão (líquidos), ou crescimento de 28% em relação ao mesmo período do ano passado. ontem, o Bradesco anunciou o maior lucro de todos os tempos de um banco: R$ 1,53 bilhão, aumento de 27% também em relação ao primeiro trimestre de 2005.
Em matéria de crescimento, o lucro do Santander Banespa não deixou nada a desejar: R$ 461 milhões no trimestre e crescimento de 41,3%. Os números de outros grandes, como Unibanco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, devem sair a qualquer momento. E a disputa pelo primeiro lugar no ranking está quente: na semana passada o Itaú anunciou a compra do BankBoston no Brasil.
Uma conjugação entre crescimento das operações de crédito e spread bancário (diferença entre quanto o banco empresta e o que capta) recorde. É assim que o presidente da agência classificadora de risco Austin Rating, Erivelto Rodrigues, explica os excelentes lucros dos bancos brasileiros.
“Alguns fatores contribuem para esta exuberância de resultados dos bancos. As operações de crédito vem crescendo num ritmo muito forte, já representam 31,6% do PIB e apresentaram crescimento em relação ao primeiro trimestre de 2005 de 25%. Além disso, o spread bancário praticado no Brasil é 29% em relação a pessoa física ou jurídica, o mais alto do mundo”, disse.
Mesmo com lucros recordes, os bancos continuam ocupando o segundo lugar nas listas de reclamação de órgãos de defesa do consumidor, como o Procon. Para Rodrigues, os bancos não estão preocupados com a melhoria do serviço, mas em aumentar a participação da receita em relação às folhas de pagamento.
Segundo o analista, durante a implantação do real, em 94, esta participação era de 40%. Hoje, já representa 130%. “Isto significa que só com a receita de serviços, os bancos pagam toda a folha e ainda sobra 30%. E pelo que estamos acompanhando, ainda há espaço para que eles aumentem essa receita.”
Composição – As operações de crédito já respondem por 50% da receita total dos bancos, de acordo com Erivelto Rodrigues. Em seguida, vem a tesouraria (quanto os bancos lucram ao comprar títulos públicos federais) e, com cerca de 15%, a prestação de serviços, que além de tarifas bancárias, inclui cobranças e a administração de recursos de terceiros e cartão de crédito.
Na composição do lucro, as operações de crédito respondem por cerca de 45% na média do sistema bancário. Esta participação pode chegar a 90% em bancos que atuam com crédito consignado, segundo Rodrigues, como BMG, Bom Sucesso, Cruzeiro do Sul, entre outros.
O lucro recorde dos bancos em 2005 tornou as ações bancárias um dos melhores investimentos atuais. Segundo o especialista, o desempenho das ações está atrelado ao lucro futuro dos bancos que, segundo sua previsão, devem continuar batendo recordes em 2006.
“O investidor que comprou há três anos ações de bancos com Bradesco, Itaú, Unibanco, teve um retorno incomparável com qualquer outro tipo de aplicação. Em 2006, a média de valorização das ações dos bancos de capital aberto será de 25%. Salvo alguma catástrofe econômica, diria que os bancos terão resultados ainda recordes”, afirma.
Banco por telefone – Além dos lucros auferidos pela expansão do crédito, o analista cita a informatização dos serviços, responsáveis hoje por 85% das transações bancárias, que tornou mais eficientes e baratas as operações.
“Uma transação bancária hoje é infinitamente mais barata. O número de funcionários deve estar em torno de 130 mil no país -caiu pela metade desde a implantação do real. O investimento em tecnologia possibilitou a troca de serviços até então feitos por pessoal por transações eletrônicas. Mas chegou a um limite de funcionários que dificilmente diminuirá”, disse.
Segundo o analista, o próximo passo das instituições é o desenvolvimento de mais serviços bancários pelo telefone. “Pelo celular será possível fazer todas as transações bancárias. Alguns serviços já estão chegando ao Brasil, o que vai facilitar a vida do usuário e reduzir ainda mais o custo dos bancos.”
Crédito x PIB – O mercado bancário brasileiro ainda está em expansão quando se observa a relação crédito (o quanto se empresta) e o PIB. Segundo Erivelto Rodrigues, no Brasil, esta participação é de apenas 31,6% do PIB, enquanto que na China é de 120% e no Chile está em torno de 60%. “Existe um grande potencial de crescimento das operações de crédito da indústria bancária. Se empresta mais e, em vez de ganhar escala para cobrar menos por operação, os bancos mantém a taxa de spread. Com isso, lucram mais ainda.”
Por outro lado, ele diz, o Brasil tem uma competição não acirrada dos bancos, com uma demanda maior que a oferta de crédito. “O consumidor, tomador de crédito, aceita pagar estas taxas. Se não tivéssemos na mesma quantidade, teríamos uma briga melhor por taxas.”
Segundo Rodrigues, os grandes bancos internacionais, que poderiam oferecer concorrência, acabaram seguindo o exemplo dos nacionais e mantendo as taxas. “Os grandes bancos internacionais não estão acostumados a ganhar na margem. O que se pratica lá fora é um volume de crédito enorme para uma margem de ganho por operação pequena. Na hora que chegam ao Brasil e vêem a festa do spread que tem aqui, aderem rapidinho.”
Mensalão – Erivelto Rodrigues não vê nenhum dano à imagem das instituições financeiras pelo uso dos bancos BMG e Rural no esquema do mensalão. “Os dois bancos foram investigados pela CPI e o Banco Central não encontrou nada que pudesse tomar alguma ação negativa com relação a estes bancos. O pior já passou. O problema ocorreu em maio do ano passado e, um ano depois da crise, o risco de imagem foi superado.”
fonte: Uol News