“ADIAMENTO DO LEILÃO E REVISÃO DO PREÇO MÍNIMO SÃO, AGORA, EXIGÊNCIAS MORAIS”, DIZ JÂNIO DE FREITAS
Por mais que o governo acuse sindicalistas e funcionários do Banespa de dificultar a privatização do banco, o adiamento do leilão e a revisão do preço mínimo de venda são, agora, exigências morais, legais e materiais de dois fatores acima daquelas correntes acusadas.
A recente evidência, para a opinião pública, de que a privatização concebida pelo governo transfere ao comprador lucros excelentes que o banco vem obtendo, antes da venda, preparou o escândalo se não forem revistas as condições do negócio. Versão prática de tal reação, o Ministério Público Federal questiona, por intermédio do procurador Alexandre Camanho, a avaliação adotada pelo governo. Economistas da Unicamp e do Dieese concluíram que o valor atribuído ao Banespa corresponde a perto de metade do valor real.
O que se passa com o banco, pelos elementos concretos que tem proporcionado sobre os descaminhos de sua venda, tem influências que iluminam privatizações passadas e se projetam sobre privatizações pretendidas. Os erros comprovados -vá lá que fossem só erros, falhas sem intenção- nas avaliações para privatização, como o recente desconto do mesmo R$ 1 bilhão duas vezes, dão vigor às denúncias de que outras vendas foram feitas com prejuízos altos para os cofres públicos. O que abre possibilidades futuras já muito preocupantes para as figuras do governo envolvidas, a qualquer altura, com privatizações.
Ainda pelos mesmos efeitos, mas com outro sentido, as condições e o valor questionados projetam alertas sobre privatizações que o governo articula com cuidado para que não saiam do sigilo. É o caso da privatização de aeroportos, que promete se tornar um assunto daqueles. Ou já é.
*Jânio de Freitas é colunista do jornal Folha de São Paulo. Este artigo foi publicado na edição desta terça-feira, 7.
fonte: AFUBESP