Qualidade de Vida descobre os rios que formam o Anhangabau
Embora não pareça, São Paulo é cortada por rios, córregos e riachos. Onde eles estão? Embaixo da terra, escondidos por camadas e mais camadas de concreto, correndo dentro de quilômetros de tubulações. É preciso conhecimento histórico e geográfico para entender por onde eles ainda passam e boa imaginação para tentar “sentir” a movimentação das águas em meio ao barulho ensurdecedor da capital paulista. Tudo fica um pouco mais fácil – tirando a parte da imaginação – a partir dos áudios gravados pelo pessoal do Instituto Rios e Ruas, em parceria com o projeto Cidade Azul.
Este foi o passeio da última edição do Programa Qualidade de Vida, que reuniu 25 pessoas. Munidos de seus celulares já com nove áudios baixados nos aparelhos e fones de ouvido, o grupo se dirigiu ao Vale do Anhangabaú para iniciar o passeio, que tem duração de cerca de 1 hora e distância de menos de 1 quilômetro.
Em cada ponto indicado pelos áudio-guias, os colegas puderam conhecer trechos da história do Centro da cidade, que há séculos atrás ainda mantinha seus rios a céu aberto. A partir de uma das saídas do Metrô no Vale do Anhangabaú, é iniciado o passeio pela “cidade azul que pulsa debaixo da cidade cinza”. A ideia da atividade foi percorrer o encontro das águas dos rios Saracura, Bexiga e Itororó, que se juntam para formar o Anhangabaú – “o coração vivo de São Paulo”, como é chamado no primeiro áudio, que apresenta Luiz de Campos e José Bueno – do projeto Rios e Ruas – na condução da expedição.
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Para facilitar, os áudios indicam pontos de referência e há marcas pelo trajeto, como placas (algumas foram arrancadas, mas outras persistem) e desenhos pintados em tinta azul. Com fones de ouvido acionados, os participantes do Qualidade de Vida imergiram na viagem imaginária pela história da capital. Conheceram, por exemplo, que a fonte da Ladeira da Memória – que está muito maltratada por sinal – é um barranco do rio e que o obelisco – criado em memória ao bem público – ali colocado foi o primeiro monumento de São Paulo, que este ano completa 202 anos.
Um pouco mais abaixo, os colegas souberam que o tanque vazio ali localizado era um bebedouro para cavalos e ficava a beira do riacho, antes da ponte sobre o Rio Anhangabaú, que hoje corre dentro de uma galeria subterrânea. Já em cima da ponte que passa pela Avenida Nove de Julho, corre escondido o Rio Saracura. Ali, no porão de um prédio há uma nascente de águas do rio.
Logo a frente, um novo ponto marca a passagem do Rio Bexiga, que tem hoje em cima dele nada mais, nada menos que a Câmara Municipal de São Paulo. Neste mesmo rio, há centenas de anos, na Rua Santo Antônio, ficava um matadouro que despejava as carcaças nas suas águas. “É possivelmente o primeiro rio poluído de São Paulo, que já desaguava sujo no Saracura”, diz o áudio. Levava consigo o cheiro fétido das coisas que os homens jogavam nele. “Desde esta época a cidade começou a associar esgoto ao rio, e continua sendo assim.”
No ponto seguinte, os colegas chegaram ao Rio Itororó, cujas nascentes abasteceram a capital depois que o crescimento desordenado da cidade inviabilizou o Saracura. Atualmente, ele corre embaixo do casarão hoje chamado de Red Bull Station.
Subindo a Colina Histórica, os colegas conheceram a São Paulo de antigamente, num ponto onde dois rios passavam lá no seu pé e acima prédios centenários ainda seguem preservados – a igreja, o convento e a faculdade no Largo São Francisco. Ao descer, chega-se ao encontro das águas que formam o Rio Anhangabaú, escondido agora por 14 pistas de asfalto. E por conta dele, foi criado um vilarejo com a presença de índios e portugueses chamado de São Paulo dos Campos de Piratininga.
O final do trajeto, já no centro do Vale, os rostos mostraram que a imaginação venceu o concreto e que os participantes do Qualidade de Vida conseguiram enxergar a cidade azul. A banespiana Vera Lucia D. Pavan Bega, gostou tanto que ficou interessada em fazer o outro roteiro disponível, que está na região da Vila Madalena e percorre as ruas em busca de conhecer a formação do Rio Verde. “É maravilhoso. Não tinha noção de quanta água passa aqui embaixo tão escondidinha, que foi tão importante. Consegui até imaginar os rios”.
Texto Érika Soares
Fotos Dorival Elze