BANESPIANOS INICIAM DEBATES DO 14º CONGRESSO
Bom astral e animação resumem bem o clima do primeiro dia do 14º Congresso Nacional dos Banespianos que reuniu 400 delegados, hoje na Quadra dos Bancários, na região central da capital paulista. As vitórias jurídicas e a conjuntura política certamente têm grande parcela de responsabilidade por esse otimismo. Foram exatamente esses dois temas que ocuparam os debates do período da manhã.
Todos os pronunciamentos focalizaram o movimento contra a privatização do Banespa como um dos elementos detonadores da grave crise que hoje abala profundamente o governo FHC. As análises apontam uma conjuntura favorável a mudanças no país, uma avaliação que estimula a luta de resistência dos banespianos. Os expositores disseram também que esse processo não é linear e que o fortalecimento da mobilização e o envolvimento da sociedade são fundamentais para a vitória.
O primeiro convidado a fazer uso da palavra foi João Piza Fontes, autor da ação impetrada pelo Sindicato cuja liminar contra a privatização do Banespa é uma das que serão analisadas pelo Supremo Tribunal Federal.
Piza criticou o casuísmo do governo na utilização da Medida Provisória nº 1.984, instrumento que qualificou de “pérfido” , e resumiu na seguinte frase sua expectativa para a decisão do STF: “Fiquem tranqüilos que o bom direito está do lado dos trabalhadores. Se perdermos no STF será no ‘tapetão’”.
O jornalista Gilberto Maringoni discorreu sobre a dívida externa, seus desdobramentos na vida dos cidadãos e como a política de privatizações do governo FHC foi desenhada para amortizar os juros dessa dívida. Depois de resgatar a história da dívida externa brasileira, o jornalista conclamou os banespianos a votarem no plebiscito nacional organizado por entidades do movimento democrático e popular que será realizado entre os dias 2 e 7 de setembro. Nessa consulta, os brasileiros vão decidir sobre três questões: se o governo brasileiro deve manter o atual acordo com o FMI; se o Brasil deve continuar pagando a dívida externa, sem realizar auditoria pública desta dívida, como previa a Constituição de 1988 e se os governos federal, estadual e municipais devem continuar usando grande parte do orçamento público para pagar a dívida interna aos especuladores.
O 14º Congresso deverá definir orientações para os banespianos, a respeito do plebiscito.
O deputado federal José Genoíno (PT-SP), último convidado da manhã, destacou em sua análise a crise estrutural acentuada hoje no país com o escândalo do desvio de verbas do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, que envolve o ex-secretário-geral da Presidência da República, Eduardo Jorge. Essa crise, na sua opinião, sinaliza uma grande derrota do governo FHC nas próximas eleições.
“As bases econômicas e políticas do projeto de sustentação do governo FHC estão sendo questionadas e contestadas pela sociedade”, disse o deputado, que concluiu seu pronunciamento elogiando a estratégia de alianças utilizadas pelos banespianos em seu movimento de resistência à privatização. Para ele, as alianças que temos conseguido hoje não teriam sido possíveis no começo do mandato de FHC.
No encerramento do painel sobre conjuntura, a mesa leu uma carta de saudação ao Congresso enviada pela deputada Iara Bernardi (PT-SP).
Defesa. O período da tarde foi reservado ao painel sobre Defesa do Banespa que contou com a participação dos seguintes expositores: João Vaccari, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, o deputado federal Ricardo Berzoini e Valério Arcary, representando do PSTU.
Vaccari enfatizou a importância da resistência dos banespianos para o país e a necessidade de fortalecer ainda mais as mobilizações nessa etapa da luta contra a venda do Banespa.
Valério Arcary fez uma apanhado histórico das mobilizações desde o combate à ditadura militar aos dias de hoje e destacou, entre outros pontos, a importância da luta em defesa dos bancos públicos como condição para ao sucesso da luta dos trabalhadores para erradicação da fome e da miséria.
O deputado Ricardo Berzoini criticou a apelação do governo no uso da MP 1.984, que, segundo ele, é uma medida do governo federal que atropela os mais básicos princípios da democracia na tentativa de impor a privatização do Banespa. Para o deputado, a presença do Estado no sistema financeiro, é condição para a defesa da cidadania, daí a importância da luta contra a entrega do Banespa para a iniciativa privada.
Berzoini falou também da combinação bem sucedida da estratégia jurídica com uma estratégia política que culminou no impasse em que hoje se encontra o projeto de privatização do banco e insistiu na necessidade de os banespianos desencadearem o que chamou de “resistência ativa” para evitar o esvaziamento do banco. Ele acha importante chamar os administradores para uma atuação firme para que o Banespa não perca espaço no mercado em função da “gestão passiva” adotada pelos interventores.
Ao final de sua exposição, o deputado propôs uma homenagem ao jornalista Aloysio Biondi, falecido no último dia 21, pelo trabalho persistente de defesa da soberania nacional e das empresas públicas .
fonte: AFUBESP